BATISMO CRISTÃO

O BATISMO CRISTÃO
I - INTRODUÇÃO:

Os Documentos da Igreja Presbiteriana referem-se ao batismo como um "sinal visível da graça de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual nos tornamos participantes da comunhão do Espírito Santo e herdeiros da vida eterna". Note-se aqui que é pela graça em Cristo e não pelo batismo que nos tornamos "participantes"! Isto em si já diz muito, mas é preciso examinar três dos termos citados: a graça, a comunhão do Espírito Santo e a expressão "herdeiros".

1) O batismo é sinal da "graça" vinda de Deus. É a declaração da ação de Deus (Pai, Filho e Espírito Santo) a nosso favor - a graça oferecida a todos (Rm 5:18). A graça não pode ser limitada à idade. Qual a idade a que seria limitada? Deve a igreja voltar à lei do Antigo Testamento e à idade de 13 anos, quando era realizado o "Bar Mitzvah" ou o ritual de iniciação da criança ao mundo dos adultos? Mas os judeus também praticavam a circuncisão, assim declarando a criança parte da família de Deus (veja ítem IV deste estudo).

2) Levantamos também a mesma pergunta sobre comunhão do Espírito Santo. Em que idade começa tal comunhão? (veja também no ítem IV deste estudo como a Bíblia trata as crianças).

3) A circuncisão no Antigo Testamento é declaração da herança oferecida por Deus. Paulo e outros no Novo Testamento usam a expressão "herdeiros" (Rm 8:17; Gl 3:29 ; Gl 4:1-7; Hb 6:7; 1Pe 3:7). O herdeiro tem o direito desde o seu nascimento (se ele se aproveita de sua herança ou não é outra coisa). O batismo é a declaração de que nossa herança está disponível a nós, para a aceitarmos.

II - FORMAS DE BATISMO NA BÍBLIA:

A Bíblia é a primeira fonte à qual o cristão deve olhar, a fim de compreender o batismo. Geralmente se usam duas palavras em referência à forma do batismo: "aspersão" (incluindo aqui para fins deste estudo também o "derramamento") e imersão.

A palavra aspersão acha-se em Ex 24:6-8; Lv 4:6; Lv 14:7 (onde se refere a sangue); Lv 14:16-27 (referindo-se a azeite); Lv 14:51; Lv 16:14-15 (referindo-se a água e sangue); Ez 36:25 (água); Hb 9:19-20; 1 Pe 1:2 (sangue) e outras referências semelhantes.

A aspersão aqui mencionada é feita com sangue, sangue e água, azeite e água. Este ritual era a declaração duma nova aliança, com sacrifício para remissão de pecados, para purificação, como uma forma de "batismo". É importante notar que a prática não era a da imersão (na conclusão deste estudo mostramos que esta era uma prática mais ligada à Ceia do Senhor!).

A palavra imersão, por incrível que pareça, não aparece na Bíblia nenhuma vez! Mesmo assim, é preciso examinar o significado da palavra, pois sabe-se que a imersão também era praticada pelo povo de Israel. Geralmente, imersão é termo usado com referência à morte para a velha vida e à ressurreição para a nova vida em Cristo (Rm 6:4 e 8; Cl 2:12). A palavra "sepultado", que é a base do argumento para o batismo por imersão, realmente se refere à conversão (quando o velho homem morre e o novo nasce). Mas o batismo, como veremos, é a ação de Deus (graça) em prol do homem, e não a resposta do homem à ação de Deus.

Um estudo cuidadoso da Bíblia mostra que as únicas situações onde houve possibilidade de ocorrência do batismo por imersão, foram as que cercaram o trabalho de João Batista (e este era batismo para a remissão de pecados, um ritual da velha aliança do Antigo Testamento) e a do batismo do eunuco por Filipe (At 8:26-40).

a) O BATISMO DO POVO DE ISRAEL:

As fontes que esclarecem a prática do batismo do povo de Israel são o Novo Testamento, a arqueologia e a história. A palavra "batizar" e seus derivados só aparecem no Novo Testamento. No Antigo Testamento encontram-se somente as palavras "lavar" e "purificar". Estes eram atos religiosos praticados após a contaminação, após as enfermidades, após o contato com mortos (as coisas mortas eram consideradas contaminadas), ou o contato com pessoas incrédulas (os pagãos), etc. As referências que podem ser examinadas são: LAVAR: Ex 29:4; Ex 30:19-21; Ex 40:12; Dt 23:9-11; Jr 2:27; Jr 4:14; Is 1:6, etc. PURIFICAR: Nm 8:7; Nm 19:13; Nm 19:20 e 23. Nota-se que o ritual de purificação era repetido regularmente sempre que uma pessoa fosse contaminada.

De acordo com o Novo Testamento, João Batista ("O Batizador") começou o seu ministério antes de Jesus, Lucas 3:3 diz que "ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para a remissão de pecados..." João realizava o que já era costume entre o povo de Israel, como parte dum "avivamento" ou "campanha de evangelização". Este batismo ou purificação podia ser repetido, e assim se fazia cada vez que uma pessoa se sentisse convicta de pecado e se arrependesse, ou desejasse purificar-se de contaminação. Mas não era mais que isto: um batismo para a purificação de pecados e de coisas imundas (Veja-se Atos 19:1-6).

A arqueologia e a história revelam que os israelitas construíram tanques para praticar o batismo, mas é importante reconhecer que estes atos de batismo estão longe do significado do batismo no Novo Testamento, praticado pelo Cristianismo.

b) O BATISMO CRISTÃO NO NOVO TESTAMENTO:

O batismo no Novo Testamento é chamado cristão devido à diferença de significados entre o que era praticado pelos judeus e o determinado por Jesus Cristo. "A Grande Comissão" manda batizar "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28:19). Em outras palavras, não há nenhuma ligação entre o batismo do Antigo Testamento, feito para remissão dos pecados e para a purificação, e o batismo cristão. Argumentam alguns que no Novo Testamento se fala em batizar "discípulos", isto é, adultos convertidos. Era uma situação onde muitas pessoas haviam sido convertidas e naturalmente foram batizadas. Mas tudo indica que a família toda (do novo convertido) era incluída neste batismo.

O batismo, hoje, não é repetido, quando um crente se desvia da Igreja e depois retorna, o que seria feito se se seguisse a prática do Antigo Testamento. É de estranhar que algumas igrejas não aceitem o batismo de outras. Algumas insistem no batismo válido somente com a imersão. E mesmo entre as igrejas que praticam a imersão, algumas insistem que tal batismo seja em rio ou água corrente, enquanto outras batizam em tanques (ambos os métodos foram usados pelo povo de Israel). Parece que realmente muitas igrejas não têm examinado com cuidado as Escrituras, antes de decidir a respeito de como batizar. Na prática, então, elas decidem batizar por um certo modo, procurando depois nas Escrituras, as "provas" para sustentar a sua posição.

III - O BATISMO DE JESUS:

Com respeito à necessidade de Jesus ser batizado, todos reconhecem que, como Filho de Deus, ele não precisava disto. Os homens, como disse João Batista, é que precisam ser batizados por ele (Mt 3:14). O batismo de Jesus também foi o da "velha dispensação", para a remissão de pecados (lavagem de pecados). O batismo de Jesus não foi, obviamente, "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". É importante que se note este fato. Há uma diferença radical entre o batismo do Antigo Testamento e do Novo Testamento. É neste ponto que muitas denominações têm tropeçado, quando insistem somente no batismo de adultos e por meio de imersão. Elas não têm estudado com cuidado o "significado" do batismo Cristão, tendo se preocupado mais com os "meios". No caso de Jesus, segundo E.F. Winward, na página 10 de seu livro O Ensino do Novo Testamento Sobre o Batismo, ele foi batizado "somente porque se identificou com pecadores, e para os livrar de seus pecados (somos libertos por Cristo, e não pelo batismo!). É por isso que bem no início do seu ministério Jesus se afiliou conosco, aceitando o fardo de nosso pecado".

IV - O BATISMO DE CRIANÇAS:

A Aliança de Deus com o seu povo sempre incluiu as crianças (veja, por exemplo, Dt 29:10ss, At 2:39). Inúmeras vezes Deus chama a crianças (Jr 1:5; 1Sm 3; Lc 1; Gl 1:15).

No Antigo Testamento, o povo de Israel praticava a circuncisão no oitavo dia após o nascimento dos meninos, e o batismo das meninas. A circuncisão era um sinal externo de posse (Gn 17:9-14; Cl 7:8-12). Não havia nada na cerimônia que assegurasse a fidelidade posteriormente. Mas era exigência de Deus! Do mesmo modo, não há nenhuma garantia de fidelidade permanente da parte de uma pessoa batizada, quer na infância, quer adulta. Paulo rejeitou a circuncisão, não porque fosse praticada em crianças, mas por causa da infidelidade (Rm 2:25-29). Em Filipenses 3:2, ele chegou a chamar a circuncisão de "mutilação". Do mesmo modo que a circuncisão verdadeira é a do coração, assim também o é o batismo verdadeiro.

Quem exclui as crianças da graça completa de Deus, não pode reconciliar sua ação com as palavras de Jesus em Mc 10:15, onde ele diz: "Em verdade vos digo; quem não receber o Reino de Deus como uma criança, de maneira nenhuma entrará nele". Para Jesus a criança é plenamente aceita: "dos tais é o Reino de Deus" (Mc 10:14). Estes versículos trazem uma riqueza muito importante ao evangelho e ao Cristianismo. Em poucas palavras, o coração de Deus está aberto! Deus não faz acepção de pessoas! O Reino de Deus não é só dos adultos. A graça de Deus não tem limites. Em 2 Co 5:19, Paulo diz que "Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo..." A graça é de fato oferecida a todos!

Partindo, então do Antigo Testamento e passando para o Novo Testamento, fica claro que negar a graça de Deus a uma criança é uma ofensa a Deus e uma negação de sua obra em Cristo. O batismo é o início do processo de nutrição e desenvolvimento espiritual.

Por inferência, chega-se à conclusão de que houve crianças batizadas no Novo Testamento (e o batismo de crianças só chegou a ser negado com o surgimento dos "Anabatistas", no século XVI). Repetidas vezes pode-se ler que foi batizado "fulano" e com ele "toda sua família" (veja At 16:15 e 33; At 18:8; 1Co 1:16, etc.), e a família naquela época incluía os escravos e todas as pessoas na casa.

A ênfase no batismo é dada à ação de Deus, e não a um ato de fé. É a declaração da graça de Deus, que não depende do homem, falho, pecador, nem do modo de se batizar. No "sacramento do batismo infantil, os benefícios da cruz são tornados válidos para o pequenino há pouco nascido, e a graça perdoadora de Deus começa a agir nele antes mesmo que se torne cônscio de ter recebido essa dádiva ou mesmo de ter dela necessidade", diz D. Webster, na página 34 de seu livro Em Dívida Com Cristo.

V - CONCLUSÕES:

Sobre o batismo, conclui-se o seguinte:

A) No Antigo Testamento e nos 300 anos, entre o cânon do Antigo Testamento e o Novo Testamento, o batismo era praticado por imersão e aspersão (inclusive, por derramamento), mas com a finalidade única de remissão de pecados e purificação.

B) No Novo Testamento não há nenhuma orientação sobre o modo de batizar. Esta não era a grande preocupação da Igreja. Pelo contrário, o autor de Hebreus (5:14ss, 6:1-3) diz a seus leitores que não gastassem muito tempo debatendo e rebatendo questões a respeito do batismo. Vamos adiante, diz o autor, progredindo na fé. Paulo, em 1Co 1:13-17 dá pouca ênfase sobre o batismo, colocando em lugar de maior importância a pregação do Evangelho.

C) No tempo da Igreja Primitiva, após a época dos escritos do Novo Testamento, houve um documento (entre muitos) muito importante, chamado "O Didaquê" ou "Manual de Orientação" que era usado pela Igreja. O Didaquê diz: "Se não há água corrente, então qualquer água serve; se não há água fria, então pode ser morna; mas se não há nenhuma outra, derrame água sobre a cabeça, três vezes, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". O modo de batizar, portanto, não era significativo. Tanto que não houve nenhuma orientação sobre ele.

D) O batismo cristão, embora relacionado à remissão de pecados, é antes de tudo, relacionado com a graça de Deus. A criança é pecadora apenas na medida em que participa da raça humana, e é neste sentido que a Bíblia afirma que todas as pessoas já nascem em pecado. A criança como um ser ainda pequenino, não totalmente consciente e responsável, certamente não é pecadora e nem comete pecado. John Wesley escreve em seu Diário , na data de sua experiência (24 de maio de 1738): "eu creio que até os 10 anos de idade, não pequei..." A criança, ao crescer e atingir a idade da consciência e da responsabilidade, será envolvida pelo pecado. Há, pois, necessidade de remissão de pecados para todas as pessoas. É isto o que lemos no ritual da Ceia do Senhor, quando Jesus tomando o cálice e dando aos seus discípulos, afirma: "isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para a remissão de pecados". Batismo, então, é oferta da salvação, vinda da graça de Deus, e não uma "vacina espiritual" ou uma "magia", que protege alguém para sempre. O cristão ao tomar parte na Ceia do Senhor, declara a sua aceitação da salvação em Jesus. E neste sentido, só se deve batizar crianças que sejam filhas de pais cristãos, membros da Igreja. O batismo cristão é oferta de salvação e não a própria salvação. Se pelo batismo alguém fosse salvo, não haveria necessidade da cruz e muito menos da Ceia do Senhor.

E) Havia outras práticas de batismo no Novo Testamento, notadamente o batismo em prol de pessoas já mortas (1Co 15:29), mas esta prática foi condenada e, evidentemente, logo abandonada.

F) Depois dos primeiros séculos da Igreja, houve pessoas que começaram a deixar o batismo par a última hora da vida, a fim de entrarem puras no Paraíso, mas este costume também foi abandonado.

G) Jesus nada disse sobre o modo de batizar. Não se pode imaginar Jesus, que denunciou o legalismo da lei dos fariseus (lei dos homens e não de Deus!), preocupando-se quanto à quantidade de água ou modo de batizar. Insistir nestas coisas é lei. Insistir no Espírito, no batismo, é graça. Um pregador disse certa vez, pelo rádio: "Não sei como uma pessoa inteligente pode aceitar o batismo de crianças." É este o mesmo argumento para o aceitar: Não sei como uma pessoa inteligente pode não aceitar o batismo de crianças! A graça de Deus não está impedida ou limitada pela idade. Ele, o Todo-Poderoso, faz maravilhas! Dietrich Bonhoeffer, o grande cristão alemão, disse: "O batismo a pessoa a reconhecer que toda sua vida, e a do seu filho, estão debaixo da proteção de Deus..."

H) O Cristianismo é a expressão mais perfeita do relacionamento entre Deus e suas criaturas. Não é mera cópia de outras religiões. Sabe-se que havia batismo para remissão de pecados entre o povo de Israel. Há "batismo" também na religião dos hindus, na Índia. Os peregrinos hindus saem de todas as partes da Índia para a Allahabad, onde os rios "sagrados" Ganges e Jamuna se ajuntam. Ali, os fiéis entram nas águas e se banham (ou se batizam), acreditando com isso que serão purificados de seus pecados e obterão a vida eterna e a imortalidade. O batismo cristão é mais do que uma repetição daquilo que outras religiões fazem.

I) A lógica e o raciocínio são necessários, juntamente com a orientação das Escrituras. Se não se pode batizar crianças, negando assim o poder de Deus operando em sua vida, também não se pode orar por elas! Assim, certamente, elas seriam criaturas do inferno, o que nega a declaração das Escrituras, ao registrar as palavras de Jesus "dos tais é o Reino de Deus". É evidente que isto é um absurdo.

Pergunta-se ainda mais. Uma criança pode orar? Sim, pode. Deus ouve a sua oração? Sim, Deus ouve! Então por que negar o batismo? Durante toda sua vida, o grande Reformador da Igreja, Martinho Lutero, na hora de tentação ou tribulação disse para si mesmo: "Eu já fui batizado", declarando assim que, desde criança, Deus estava com ele e que ele, em todos os momentos podia lançar-se sobre a misericórdia de Deus e apoderar-se de suas promessas.

Chega-se assim à conclusão de que o batismo de crianças não somente é válido, mas mostra maravilhosamente o quanto a graça de Deus opera em todos. O batismo limitado aos adultos coloca limitações à ação e ao poder de Deus, e empobrece seu evangelho salvador.

Grupo de Atletas Cristãos PE.