TRICOTOMIA X
DICOTOMIA
Primeiro estaremos vendo o que diz a teoria Tricotomica.
TRICOTOMIA: Este é o termo utilizado para designar a interpretação
de que o homem compõe-se de três partes, ou elementos essenciais, quais sejam:
o espírito, a alma e o corpo (1Ts-5:23).
O corpo (gr. soma) é a matéria da sua constituição; a alma (heb. nephesh, gr. psyche) é o princípio da vida animal que o homem possui em comum com os irracionais.
A ela pertencem o entendimento, a emoção e a sensibilidade, que terminam com a morte.
O corpo (gr. soma) é a matéria da sua constituição; a alma (heb. nephesh, gr. psyche) é o princípio da vida animal que o homem possui em comum com os irracionais.
A ela pertencem o entendimento, a emoção e a sensibilidade, que terminam com a morte.
O espírito (heb. ruah, gr.
pneuma), é o princípio do homem racional e da vida imortal. Possui razão,
vontade e consciência, e se estende à eternidade, após a morte biológica, ou
seja, após a morte do corpo.
Introdução: Muito se falou ao
longo dos anos a respeito de como o homem é constituído na sua natureza. É de
nosso interesse, nesse pequeno texto apenas a opinião Cristã a respeito do
referido tema. A igreja cristã tem estado dividida quanto à natureza
constitutiva do homem. Alguns advogam que o homem é constituído de corpo, alma
e espírito. Essa posição é conhecida como “tricotomia”.A posição que entende o
homem tripartido originou-se entre os gregos, eles entendiam a relação mútua
entre corpo e o espírito do homem segundo a analogia da mútua relação entre o
universo material de Deus.
Os gregos pensavam que o corpo e
a alma só podiam comunicar-se por meio de uma terceira substância ou de um ser
intermediário, o qual para eles era a alma. Quando a alma se relaciona com a
mente (Nous), era tida como imortal, quando se relacionava como o corpo, como o
carnal é mortal. A forma mais comum de apresentação do conceito tricotômico é a
que considera o corpo como parte material da natureza humana, a alma como
princípio da vida animal e o espírito como o elemento racional responsável pela
relação como o divino. Embora essa posição seja a mais popular entre os
cristãos de nosso tempo, parece não recebe apoio das Escrituras como veremos a
seguir.
A bíblia claramente expressa uma
opinião de cunho dicotômica quanto à constituição da natureza humana. Na
verdade a bíblia nos convida a ver a natureza do homem como uma unidade e não
como uma dualidade consistente de dois elementos diferentes, cada um dos quais
movendo-se ao longo de linhas paralelas. A idéia deste paralelismo entre dois
elementos da natureza humana é inteiramente alheia à Escritura.
Embora reconhecendo a complexa
natureza humana, ela nunca a expõe como redundando num duplo sujeito no homem.
Cada ato do homem é visto como um ato do homem todo. Não é a alma, e sim, o
homem, corpo e alma, que é redimido em Cristo. Esta unidade já acha expressão
na passagem clássica do Velho Testamento – a primeira passagem a indicar a
complexa natureza do homem – a saber, Gn 2.7: “Então formou o Senhor Deus ao
homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem
passou a ser alma vivente”. A passagem toda trata do homem:“Formou o Senhor
Deus ao homem... e o homem passou a ser alma vivente”. Esta obra realizada por
Deus não deve ser interpretada como um processo mecânico, como se Ele tivesse
formado primeiro o corpo do homem e depois tivesse posto nele uma alma. Quando
Deus formou o corpo, formou-o de modo que, pelo sopro do Seu Espírito Santo, o
homem se tornou imediatamente alma vivente, Jó 33.4; 32.8. A palavra “alma”, em
Gn 2.7, não tem o sentido que geralmente lhe atribuímos – sentido deveras alheio
ao Velho Testamento – mas denota um ser vivo, e é a descrição do homem
completo. Exatamente a mesma expressão hebraica, nephesh hayyah (alma ou ser
vivente) é aplicada também aos animais em Gn 1.21, 24, 30. Assim, esta
passagem, embora indicando que há dois elementos no homem, dá ênfase, porém, a
unidade orgânica do homem.
Ao mesmo tempo, ela contém
igualmente provas da composição dual da natureza. Contudo, devemos
acautelar-nos quanto a esperar ver no Velho Testamento a distinção posterior
entre o corpo, como o elemento material, e a alma, como o elemento espiritual
da natureza humana. Esta distinção entrou em uso mais tarde, sob a influência
da filosofia grega. A antítese – alma e corpo – mesmo em seu sentido
neotestamentário, não se acha no velho testamento. De fato, o hebraico não tem
uma palavra para o corpo como organismo. A distinção veterotestamentária dos
dois elementos da natureza humana é de diferente espécie. Em sua obra sobre A
Doutrina Bíblica do Homem, diz Laidlaw: “Vê-se com clareza que a antítese é
entre o inferior e o superior, o terreno e o celeste, o animal e o divino. Não
se trata tanto de dois elementos, mas de dois fatores que se unem, com uma
resultante única e harmoniosa – ‘o homem passou a ser alma vivente’”. É
evidente que é essa a distinção presente em Gn 2.7. Cf.também Jó 27.3; 32.8;
33.4; Ec 12.7. Várias palavras são empregadas no Velho Testamento para indicar
o elemento inferior do homem ou partes dele, como “carne”, “pó”,
“ossos”,“entranha”, “rins”, e também a expressão metafórica de Jó 4.19, “casas
de barro”. Há também diversas palavras que indicam o elemento superior,
como“espírito”, “alma”, “coração” e “mente”. Tão logo passamos do Velho para o
Novo testamento, encontramos as expressões antitéticas com que estamos mais familiarizados,
como “corpo e alma”, “carne e espírito”. As palavras gregas correspondentes
foram, sem dúvida, moldadas pelo pensamento filosófico grego, mas passaram para
o Novo testamento por intermédio da Septuaginta e, portanto, retiveram a sua
ênfase veterotestamentária. Ao mesmo tempo, a idéia antitética do material e o
imaterial atualmente se liga a elas.
Os tricotomistas procuram suporte
no fato de que a Bíblia, como eles a vêem, reconhece duas partes constitutivas
da natureza humana em acréscimo ao elemento inferior ou material, a saber, a
alma (hebraico, nephesh; grego, psyque) e o espírito (hebraico, ruah; grego,
pneuma ). Mas o fato de serem empregados esses termos com grande freqüência na
escritura não dá base para a conclusão de que designam partes componentes, em
vez de aspectos diferentes da natureza humana. Um cuidadoso estudo da Escritura
mostra claramente que ela emprega as palavras umas pelas outras, em permuta
recíproca. Ambos os termos indicam o elemento superior ou espiritual do homem,
vendo-o, porém, de diferentes pontos de vista. Contudo, é preciso mostrar logo
de início que a distinção que a Escritura faz entre os dois não concorda com o
que é mais comum na filosofia, de que a alma é o elemento espiritual do homem,
conforme se relaciona com o mundo animal, enquanto que o espírito é aquele
mesmo elemento em sua relação com o mundo espiritual superior, e com Deus. Os
seguintes fatos militam contra essa distinção filosófica: Ruah-pneuma, bem como
nephesh-psyque, são empregados com referência à criação animal inferior, Ec
3.21; Ap 16.3. A palavra psyque é empregada até com referencia a Jeová, Is
42.1; Jr 9.9; Am 6.8 (texto hebraico); Hb 10.38. Os mortos desencarnados são
chamados psyqai,Ap 6.9; 20.4. Os mais elevados exercícios da religião são
atribuídos à psyque, Mc 12.30; Lc 1.46; Hb 6.18, 19; Tg 1.21. Perder a psyque é
perder tudo. É mais que evidente que a Bíblia emprega as duas palavras uma pela
outra, permutando-as reciprocamente. Observa-se o paralelismo em Lc 1.46, 47: “A
minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu
Salvador”. A fórmula escriturística para designar o homem é, nalgumas
passagens, “corpo e alma”, Mt 6.25; 10.28; e noutras, “corpo e espírito”, Ec
12.7; 1 Co 5.3, 5. Às vezes a morte é descrita como a entrega da alma, Gn
35.18; 1 Rs 17.21; At 15.26; e também como a entrega do espírito, Sl 31.5; Lc
23.46; At 7.59. Além disso, tanto “alma” como “espírito”são empregados para
designar o elemento imaterial do homem, 1 Pe 3.19; Hb 12.23; Ap 6.9; 20.4. A
principal distinção feita pela Escritura é como segue: a palavra
“espírito”designa o elemento espiritual do homem como o princípio de vida e
ação que domina e dirige o corpo; ao passo que a palavra “alma” denomina o
mesmo elemento como o sujeito da ação no homem e, portanto, muitas vezes é
empregada em lugar do pronome pessoal no Velho Testamento, Sl 10.1, 2; 104.1;
146.1; Is 42.1; cf, também Lc 12.19. Em diversos casos, designa mais
especificamente a vida interior como a sede dos sentimentos. Isso tudo está em
completa harmonia com Gn 2.7, “o Senhor Deus...lhe soprou nas narinas o fôlego
de vida, e o homem passou a ser alma vivente”. Assim, pode dizer que o homem
tem espírito, mas é alma. Portanto, a Bíblia indica dois, e somente dois,
elementos constitutivos da natureza humana, a saber, corpo e espírito ou alma.
Esta descrição escriturística harmoniza-se também com a consciência própria do
homem. Enquanto que o homem tem consciência do fato de que consiste de um
elemento material e de um elemento espiritual, nenhum homem tem consciência de
possuir alma em distinção do espírito.
Há, porém, duas passagens que
parecem estar em conflito com a usual descrição dicotômica da Escritura, a
saber, 1 Ts 5.23,“O mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito,
alma e corpo, sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo”; e Hb 4.12, “porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e
mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até o ponto de
dividir alma e espírito, juntas e medulas e apta para discernir os pensamentos
e propósitos do coração”. Deve-se notar, porém, que: (a) É boa regra de exegese
que as afirmações excepcionais sejam interpretadas à luz da analogia
Scripturae, ou seja, da apresentação usual da Escritura. Em vista deste fato,
alguns dos defensores da tricotomia admitem que essas passagens não provam
necessariamente a posição deles. (b) A simples menção dos termos espírito e
alma um ao lado do outro não prova que, segundo a escritura, são duas substâncias
distintas, como também Mt 22.37 não prova que Jesus Considerava o coração, a
alma e o entendimento como três substâncias distintas. (c) Em 1 Ts 5.23 o
apóstolo deseja simplesmente fortalecer a afirmação: “O mesmo Deus da paz vos
santifique em tudo”,na qual se resumem os diferentes aspectos da existência do
homem, e na qual o apóstolo se sente perfeitamente livre para mencionar os
termos alma e espírito um ao lado do outro, porque a Bíblia distingue entre
ambos.
Ele não poderia ter pensado na
alma e no corpo como duas substâncias diferentes, porquanto noutros lugares da
Escritura diz ele que o homem consiste de duas partes, Rm 8.10; 1 Co 5.5; 7.34;
2 Co 7.1; Ef 2.3; Cl 2.5. (d) Hb 4.12 não deve ser entendido no sentido de que
a palavra de Deus, penetrando no íntimo do homem, faz separação entre a sua
alma e o seu espírito, o que naturalmente implicaria que são duas substâncias
diferentes; mas simplesmente no sentido de uma declaração de que ela produz uma
separação entre os pensamentos e as intenções do coração.
Fonte: Louis Berkhof (Teologia
Sistemática).